AS PORTAS QUE ABRIL ABRIU

Comemora-se este mês mais um ano da Revolução dos Cravos, marco na História Mundial e fundador da democracia portuguesa. No próximo dia 25, relembramos o amanhecer de Portugal, como aclamaram os poetas, depois de 48 anos de obscuridade fascista, que apesar de muitos de nós não os termos presenciado, não poderemos ficar indiferentes aos relatos de gente que os viveu, ou melhor, sobreviveu. Mas haverá melhor forma de celebrar este momento, do que praticar os ideais gerados pela revolução? Relembrando aos esquecidos, tudo aquilo que mudou desde então, como consequência directa de Abril? Destes 33 anos passados, o que ficou da revolução? Nada mais do que um vasto leque de direitos e liberdades, de que gozamos actualmente, sem termos a mínima noção de serem estas as verdadeiras e reais repercussões da revolução. São eles, por exemplo, o direito à educação e a democratização do ensino, que ainda limitada, integra a escolaridade mínima obrigatória até ao 9º ano, a criação de mais e melhores escolas, desde o pré-escolar ao ensino superior, a assistência social (cada vez mais reduzida) nos estudos até à conclusão da licenciatura, um leque de matérias muito mais alargado e imparcial e o direito de os estudantes interferirem democraticamente na gestão e organização das instituições. A liberdade de expressão, tão presente que até esquecemos que existe! Que nos torna críticos, seres pensantes, humanos no verdadeiro sentido da palavra. Representa também a liberdade que tenho para escrever este simples texto de opinião, como para em qualquer conversa dar a nossa opinião. A liberdade de associação, que possibilita a formação de colectividades de todo o tipo e para todos os gostos, sem a qual não existiriam as associações de estudantes (e Semanas Académicas!), de artistas, de desporto, sindicatos, ou até pequenas tertúlias e encontros! O direito à cultura, o direito de usufruirmos do maravilhoso mundo do cinema, da musica, das artes plásticas, da literatura, da dança, etc. O direito à saúde, materializado na criação do Sistema Nacional de Saúde, e a fundação de novos hospitais e centros de saúde, assim como na desmistificação da sexualidade, sobre a qual hoje se fala cada vez mais abertamente, respeitando as opções de cada um e criando condições para que os métodos de contracepção e protecção sejam acessíveis a todos e para todos, sendo urgente a implantação definitiva da educação sexual.
E muito mais haveria para dizer, mas por limitação de espaço não me alongarei mais. Assim deixo aos colegas, este pequeno cheirinho, d’ As portas que Abril abriu, como cantou o poeta da liberdade, para que nesse dia (e não só) pensem naquilo que temos agora, que o valorizem e guardem. Pois foram precisos muitos anos para o conseguir e muitas vidas, pois a revolução não se fez num dia, nem num ano, ela foi antes o culminar da luta de muitos portugueses, que acreditaram que a mudança era possível!
[1] Excerto de um poema de José Carlos Ary dos Santos.

Ana Tarrafa Silva

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